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O QUE VOCÊ COLECIONA?

Você já parou para pensar sobre o ato de colecionar? Quando era pequeno costumava fazer coleções de alguma coisa? Ainda faz na vida adulta? O que difere um objeto de coleção de um objeto comum?


Colecionar não é simplesmente acumular, mas selecionar, classificar e organizar objetos. Fazer uma coleção implica em criar, imaginar, pesquisar, raciocinar... ações que configuram um trabalho de observação, síntese e análise, desenvolvendo aptidões e aumentado a capacidade de aquisição de novos conhecimentos com a conseqüente elaboração e expressão dos mesmos.


O ato de colecionar guarda estrita relação com os museus e tem origem desde o início da humanidade. O homem, por infinitas razões, coleciona objetos e lhes atribui valor, seja afetivo, cultural ou simplesmente material.



O gabinete de curiosidades, ou como também é chamado quarto das maravilhas, designa os lugares onde, durante a época das grandes explorações e descobrimentos dos séculos XVI e XVII, se colecionava uma multiplicidade de objetos raros: fósseis, esqueletos, animais empalhados, minerais, miniaturas, objetos exóticos de países distantes, obras de arte, máquinas e toda a sorte de objetos raros e maravilhosos. Imagem: Gravura Dell'Historia Naturale de Ferrante Imperato, a mais antiga ilustração de um gabinete de história natural, Nápoles, 1599.



Colecionar tem a ver com o desejo pela vida, “é uma forma de apossar-se do mundo — não se possui somente o objeto, mas todo o emaranhado de significados, práticas e vivências a ele ligadas”. (1) Segundo Walter Benjamin (1892-1940) o colecionador é o indivíduo que assegura a relação mais íntima com os objetos que possui, “não que esses objetos vivessem nele, é ele que vive por meio deles e dentro deles”. (2)


Colecionar é manter a história viva. Com o passar do tempo, o colecionador começou a ser visto como alguém que poderia colaborar a preservar objetos que fizeram parte da nossa história, da mesma forma como passamos informações através de gerações, histórias de família que passam de pais para filhos. A gente não coleciona somente objetos, coisas materiais, colecionamos lembranças, afetos, experiências de vida.


Inspirados por isso demos o nome do nosso projeto de O Pequeno Colecionador. Mas, você pode se perguntar, o que colecionar tem a ver com brincar? Por que as crianças são mais adeptas dessa ação do que os adultos? Podemos ver no ato de colecionar um processo de criação?



Uma visão de um Wunderkammer: David Teniers, o Jovem, Arquiduque Leopold Wilhelm em sua Galeria de Pintura em Bruxelas, 1651, Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria.



Segundo Susan Stewart (3): “A coleção é uma forma de arte como o brincar, uma forma que envolve a ressignificação dos objetos dentro de um mundo de atenção e manipulação de contexto. Como outras formas de arte, sua função não é a restauração do contexto de origem, mas sim a criação de um novo contexto, de uma forma metafórica...”


Uma coleção nunca se encontra pronta, acabada, está sempre em processo de transformação, mudando conforme o tempo, assim como o seu significado, e — por que não dizer (?!) — o próprio significado da arte. Talvez seja justamente este fato, o de se compreender como algo para sempre inacabado, que nos mantêm buscando a sua inatingível completude. Seguimos coletando, colecionando, criando...





(1) BLOM, P. Ter e manter: uma história íntima de colecionadores e coleções. Rio de Janeiro: Record, 2003.

(2) BENJAMIN, W. Passagens, São Paulo: Imprensa Oficial, 2009, p. 240.

(3) STEWART, S. On Longing: Narratives of the Miniature, the Gigantic, the Souvenir, the Collection. Baltimore and London: John Hopkins University Press, 1984 in ARANTES, C. P. Coleções: um estudo dos processos criativos e comunicacionais, Programa de Estudos em Comunicação e Semiótica, PUC-SP, 2010.


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